terça-feira, 3 de novembro de 2009

MASSACRE DE RUANDA

Ontem, depois do meu curso, voltei pra casa conversando com uma colega. Ela se chama Mcline e é de Ruanda.
Ela já tinha mencionado que vivia em Ruanda durante a guerra civil que ficou conhecida como o evento mais trágico da segunda metade do século passado. Eu, curiosa que sou, perguntei se ela se importava de me contar como tudo aconteceu.

Mcline contou que ela tinha dezesseis anos e era uma "tutsi". Ela me explicou toda a história que vocês podem ler aqui. Ela disse que no dia D, seu pai via o jornal na tv quando ficou sabendo que o presidente tinha sido assassinado. Na hora ele desligou a tv e disse que isso era uma catástrofe. Mandou que sua mulher e filhas pegassem o mínimo necessário e então todos fugiram, de pijama, para a embaxada da Tanzânia, que ficava próxima a casa deles.

Duas horas depois os guerrilheiros estavam na casa deles, procurando todo mundo pra assassinar. Explodiram tudo com uma granada. Mcline disse que chorou quando viu os escombros porque ela pensou nas fotos. Seu pai olhou pra ela e disse que eles estavam vivos e era isso que importava.

Depois disso ela disse que eles passaram fome e depois os franceses vieram e levaram todos pra um campo de refugiados. Não sei quanto tempo isso tudo durou porque estava tão impressionada que queria simplesmente que ela continuasse sua narrativa.

Então, enquanto estavam lá no campo, uma organização canadense foi e os trouxe pra cá, junto com outras centenas de família. Ela disse que tiveram sorte porque eles simplesmente deramn o visto canadense pra eles. Depois corrigiu: "deram não, a gente depois teve que pagar a passagem de avião". Ela falou meio rindo porque sabia que pagar uma passagem de avião não era nada perto do risco de ter que viver num campo de refugiados na África esquecida.

Perguntei à ela sobre a família: "meus pais e irmãs estão todos aqui comigo. Mas perdi muitos tios e primos. Teve uma prima minha que morreu com machadadas na cabeça. Ela teve sorte." Ela viu meu olhar arregalado. "É sim. Minha tia, sabe o que eles fizeram com ela? Deram um cortezinho nos dois punhos e nos dois nos tendões de aquiles e deixaram ela lá sangrar até morrer. Minha outra prima, amarraram ela numa árvore e colocaram gasolina e atearam fogo nela viva. Dava pra ouvir seus gritos."

"Quando eu vejo os reponsáveis serem hoje julgados por crimes de guerra eu olho e penso que é muito pouco por tudo o que eles fizeram. Eles não simplesmente assassinavam as pessoas. Faziam questão de serem bem cruéis. Eles dizem que foi uma revolução do dia pra noite mas é mentira. Foi coisa pensada. Eles tinham listas de todo mundo que iriam matar com nome e endereço. Os hutus matavam também hutus. Eles entravam na casa dos hutus e mandavam eles irem matar também. Se dissessem não, eram assassinados como os outros."

"Antes falar disso me fazia chorar mas hoje (dá de ombros). Hoje até assisto filmes sobre o que aconteceu. É passado e é minha história." Falei com ela que a gente até estuda isso na escola mas ouvi da boca dela dá outro sentido à história.

Minha estação chegou e eu me despedi. Desci e vim andando com a cabeça rodando. Ainda vou colocar uma foto dela aqui pra vocês verem como ela é bonita. É miudinha mas tão forte.
Fiquei pensando em como estar aqui nos permite estar em contato com várias culturas e como isso é rico. Aliás, é uma das maiores riquezes da experiência de estar aqui. E estar com alguém que viveu a história, que participou e teve a vida marcada é ... chega a ser uma honra.

Mcline hoje ocupa um lugar especial no meu coração. E eu vou falar isso pra ela!!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa que horror,e agente ainda achando que as vezes somos infelizes.Sinceramente eu fiquei chocada.Que Deus compense esta menina abencoando ela e todos que sobreviveram.

Anônimo disse...

SOU RUANDESA, QDO TAVA LENDO ISSO ME LEMBREI DE TUDO... FOI INACREDITAVEL. SÓ TENHO Q AGRADECER O AMOR DE DEUS.

Anônimo disse...

AH, ESQUECI, MANDE UM GDE ABRAÇO P/ MCLINE,
ABRAÇOS

(mclaire.1@gmail.com)

Anônimo disse...

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13:13).
Que Deus abençoe você, Mcline e a todos os Ruandeses e pessoas que tanot tem sofrido e já sofreram. Abraço apertado...
Iolanda